segunda-feira, 10 de março de 2014

Pra Caro

A vida é bonita, a vida é legal, é pra ser vivida, mas a vida também é uma naba. Uma safada, desgraçada e desinibida.
Nem venha de graça, todo mundo um dia xinga pra valer a dona vida e quer manda-la a madre superiora que a pariu.

Não questiono mais há bastante tempo as escolhas que ela faz, as peças que prega e as brincadeiras de mau gosto que vez ou outra atira na cara da gente...

Hoje são 6 anos que eu voltei do Rodeio de Nova Prata com o cabelo duro de gel e laquê, cheia de grampo enfiado no crânio, cansada, podre de cansada. Até hoje não lembro o resultado daquele rodeio, mas lembro eternamente de tudo que aquela época me roubou.
Lembro da pressa, da correria, lembro do cansaço, da falta de tempo, das três, quatro palavras trocadas no portão, da foto em família perdida, do susto gigantesco. Do assombro, da tristeza, do baque. Da bosta da vida se manifestando.

Toda vez que eu olho pro carro do meu pai a dona vida joga na minha cara, me belisca, me cutuca: aquele raspão na porta do Dodge é pra eu nunca esquecer.
A gente corre, corre, corre, acha que algumas coisas são tudo na nossa vida, fazem todo sentido, e um dia a gente percebe que não é bem assim... Que não deveria ser assim, e uma coisa não pode roubar espaço da outra, vida da outra... E aí a gente se dá conta que quando mais precisa, ninguém se importa. O mundo rui por dentro e isso é uma coisa só da nossa vida. NOSSA, possessivo, não de posse possuída, mas no sentido de nossa, a gente tem que cuidar, porque ela é única, é blábláblá, e porque nada vai passar duas vezes. Nenhuma chance.

Vida, sua bandida... Tá levando gente boa demais pro outro lado da força... Eu te diria que preferia que o céu secasse, ficasse mais seco que o sertão, vazio, sozinho, árido e triste. Preferia que ficasse vaziozinho, pobre, feio, mas que tu parasse de fazer isso. É um saco falar pra criança sobre a não-vida, e ter a vida jogada na cara (de novo!) por esses anjinhos que a gente chama de criança... E que quando a gente chega pra falar, sempre nos sacodem com umas perguntas... Com umas verdades sobre a vida... Eu não te questiono, vida, mas adoraria te mandar ir se foder. De verdade. Vá pregar peças pra tua mãe...
Que coisa.
Mas eu não te questiono, sei que teus propósitos são bem maiores. Eu não sei quais são, mas tem que ter, né? Porque se não, qual o sentido de tamanha peça filha de uma puta, mal pregada?

Desculpa, mas eu não quero questionar, só quero falar o que as vezes a gente tem vontade de te dizer. Principalmente nessas horas. Nessas horas que a gente pensa mais na gente do que nos outros e se pergunta quem é que vai contar histórias de quando eu era pequena?

Querida, eu gosto de você, então me deixa dizer isso. Não me leve a mal. Me deixa falar um pouco... E pensa... É melhor que toda essas tristezas tenham sentido algum dia...

A minha prima se foi cedo. Cê deve saber. E quando gente jovem, querida e bonita se vai, muita besteira roda por aí. Que digam, que pensem, que falem... Viver foi o maior presente! E viveu. E é isso que importa.

Sempre que vejo as crianças com crianças menores, penso que elas sempre acham que os pitocos são os seus bonecos... E são. Nós somos os bonecos dos nossos primos mais velhos.

Acho que é só isso. Por enquanto.
Não estou braba (com b mesmo) com a vida. Só coloquei pra fora. E queria que ela fosse se foder mesmo. ProntoP
assou.

É isso.

Um beijo pra Caro.