domingo, 7 de agosto de 2011

Doida x Santa

"Estou no começo do meu desespero e e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
"

Conheci este trecho de "a Serenata", de Adélia Prado, por conta da Martha Medeiros, minha diva.


Estou numa fase (longa e constante) de mudanças, de todos os tipos, gêneros e graus. De resgate de muita coisa, de retorno a coisas boas que ficaram pra trás, por descuido ou por que fui obrigada a tal; resgatando muita coisa de mim que deixei esquecida no caminho enquanto saia loucamente correndo atrás do bonde - leia-se CTG também - e corria junto pra não perder nada.
Muitas, muitas coisas aconteceram.


Então o resgate de certas ideias e ideais foram necessários. NECESSÁRIOS MESMO, para que eu não caísse na total loucura e me tornasse efetivamente alguém que não sou (ou era).
Passei por diversas fases...
Sou muito insegura pra relacionamentos, sofri "assédio moral" por muitos anos, e me livrar das sensações e marcas produzidas por tal é algo difícil, por que surgindo algo que se assemelhe, a agonia e a angústia voltam com tudo. Não sei se já contei a alguém sobre a época em que não me reconhecia mais sem maquiagem. Nunca usei, nunca fui de usar; usar mesmo, só pra apresentação com o CTG.
Olhava minhas fotos e achava que só era bonita se estivesse impecavelmente maquiada. Fora aquilo, não servia pra nada.
Consegui tirar isso da cabeça, por que nunca na minha vida dei valor pra rótulo, nem reboco. O que somos e o que valemos está dentro e abaixo da pele.


Parei de dançar.
A história é longa, longa, longuíssima. Mas uma das questões que mais me acometia o pensamento era "quem sou?", "quem é essa pessoa que estou 'me tornando' e não sou?"... Percebi que estava deixando de ser a Marina, pra ser alguém que eu nem sei quem era, suspeito "levemente" que aquilo era um esboço do que os "outros" fazem com a gente...


Me dei conta que não precisava mais provar nada pra ninguém.
Que não precisava provar pra ninguém que eu sabia dançar. Que não precisava provar pra ninguém que eu aprendi muito e sei me defender se questionada sobre pilchas, costumes, um pouco de história, regulamentos... Não precisava provar pra ninguém que eu era capaz de enfrentar meus medos, dificuldade e limitações, e dançar! Dançar lindamente, do meu jeito, não como o robô que sempre insistiram para que eu fosse. Não precisava provar pra ninguém nada, muito menos pra mim mesma.


Nossa.
Chegar a esta conclusão final foi o máximo da liberdade que acho que já experimentei em toda a minha vida!


Tenho muitos conceitos "em mim", sobre certo e errado, como por exemplo, pra mim não existe meio certo ou meio errado, ou é certo ou é errado. Podemos COM CERTEZA ABSOLUTA argumentar sobre isso (um assunto qualquer), mas a conclusão final será "certo" ou "errado", jamais meio termo. Posso mudar de opinião, claro, mas não aceitar uma meia verdade ou uma meia mentira.


Sempre me puni por sofrer por coisas pequenas, por exemplo, prova, nota, falsidade, uma tristeza incontrolável, um amor furado (coisa mais do que recorrente na minha vida... vejamos meu último desastre... acho que esse bateu o record de burrice... enfim...). Me puni por que perder alguém definitivamente, como a morte, doença, desastres são infinitamente piores e motivos reais pra se sofrer, né?


Mas assim, PÓRCO DUM PÓRCO DUM PÓRCO, não posso sofrer?
Eu respeito as dores reais e mais fortes, eu respeito essas tristezas infindáveis e trágicas, eu as reconheço, sei que são maiores, são piores, são horrendas... Mas não posso mais não me permitir sentir tristeza, dor, essa vontade de desaparecer de tanta tristeza.


Estou me dando conta que posso fazer e não mais somente "saber" que temos o livre arbítrio de decidir ser simpático ou bravo, educado ou grosso. Que posso sem ser punida.
Posso ser curta e grossa, posso ser mal educada e estúpida, posso ser exatamente conforme meu humor ou minha vontade. Que não preciso mais levar patada e ficar quieta pois tenho que ser simpática e educada e uma guria legal.


Palavrão: Vai tomar no fiofó!


Por favor!
Por que tenho que sempre ser eu a pessoa educada e simpática e preocupada, e levar na cabeça sempre?
Estou cansada.
Não, nunca fui uma ilusão, não estou dizendo que fui falsa, estou dizendo que finalmente me dei o direito de ser malvada também se eu quiser.


É um desespero, como disse Adélia Prado, ficar nessa linha entre a doida e a santa. Por que ambas são mal vistas e ambas são bem vistas. E de qualquer forma, você se ferra.
Ser "doida" ou ser "santa" nunca é suficiente ou é correto.
Sempre vai ter alguém pra olhar com olhos diferentes sob o mesmo aspecto e ditar:
- Tu é doida!
- Tu é santa!


Vão se phoder, que todos ganhamos mais.
E se não aceitar alguém como eu, com defeitos e qualidades, phoda-se mais ainda! E olhe pro próprio umbigo antes de me classificar como se eu fosse, como se tivesse que ser igual a um modelo padrão da sociedade.


Puta merda, que raiva!


Beijos

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