quinta-feira, 8 de março de 2018

Mulher - todo mundo mete a colher

São muitas hashtags. Cada comércio cria uma, cada movimento outra, cada ideia mais uma. E eu só queria - ou não queria - escrever alguma coisa qualquer.
Pensando, hoje me ocorreu que para o tal Dia da Mulher, para o #MeToo, para #EuTambém, para a vida diária, adoraria que as pessoas parassem de julgar o livro pela capa, de olhar pra minha cara e presumir o que sei e o que não sei. Adoraria que parassem de perguntar de onde vim, pra onde fui, qual é meu curriculum vitae, o meu sobrenome, endereço e número do RG, por presumirem que meu rosto revela tudo o que há pra ser revelado e o que não há também.
Sou pior por ser nova demais? Sou pior por ser velha demais? O que é que a minha cara vai dizer?
Me dei conta que, com absoluta certeza, a insistência não é a mesma para qualquer colega homem, mais jovem, mais velho, do que eu.
A minha cara tem mancha de sol e de remédio (talvez), elas começam a me incomodar, mas nada ainda como a mancha vermelha na ponta do meu nariz. Nossa! Ela sim tinha o poder de me matar. Ainda a enxergo DIREITINHO nas fotos antigas. Na minha cara tem rugas, as mesmas que eu bati o pé, finquei a pata no chão e precisei fugir da profissional que queria MUITO que eu aplicasse botox para ser mais feliz (eu ou ela?).
Meus melasmas tem tantos pesos... Tem a cicatriz da vídeo, tem a "bendita" endometriose, tem a desgraça de tudo o que ela traz. Não posso nem me queixar, antes da vídeo era incontavelmente pior.
Vivemos acorrentas a remédios. Vivemos marcadas por sentenças. ("mais" 6 anos...)
Quando eu dançava, em uma época, percebi que não "reconhecia" mais o meu próprio rosto se não estivesse "montada". Que a maquiagem era a minha segurança.

Lembrei do dia que sei lá que santo baixou, abri minha revista de adolescente e descobri que eu não estava ali, que então era assim que as gurias eram, e corri esfregar meus dentes com pasta de dente e escova pra ver se algo teria como ficar parecido. (reviro os olhos de lembrar desse momento patético)
Uma vez, na escola técnica, não lembro o que fazíamos, um colega (foi bem inocente a preocupação, sério) me olhou todo encabulado e perguntou se não ia quebrar minhas unhas. Só lembro que fui lá e fiz. De boa. MAS lembro do professor que usou ironia pra dizer que não podíamos fazer algo por causa das unhas.
Fiz meu ensino médio em escola técnica, com unha comprida e sempre bem pintada. As únicas coisas que me neguei a fazer foram chegar perto de galinha viva e matar qualquer animal.

Tu acha que alguém vai gostar de ti? Tu acha que alguém vai querer ficar contigo? Tu não serve pra casar. Tu não é séria. É nojento como tu come. Não usa salto, tu não pode ficar maior do que eu. Ela ainda é melhor do que tu. Os piores a gente coloca atrás, com a desculpa de que são altos.

Tenho preguiça mental de repensar tanta merda. De lembrar, de reviver. Não preciso mais disso.
Infelizmente essas "merdas" moldaram muita coisa, estragaram incontáveis.
A gente tem cara de Mulher Maravilha, mas é cada besteira que tem que viver... Cada asneira que precisa ouvir todo santo dia...

Dia da Mulher não é flor. É fechar a boquinha e colocar o miolo pra pensar, porque a gente se "frode", mas propaga essa "frodidão", ou tu pensa que é só homem que questiona meu conhecimento, porque jura de pé junto que essa carinha calejada tem 20 e poucos anos?
(e assim é pra tudo nessa vida, o exemplo seguiu pra reflexão geral)

Beijos,
Eu

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