sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O "Mimoso" que roubava cadernos

Sabe que me ocorreu uma coisa...
Dentro desses diversos universos que se escondem dentro de mim, esse silêncio, essa sensação de "sei lá o quê" estavam me atormentando um pouco... E eu acabei lembrando de uma coisa, na verdade, lembrando mais ou menos, por que um dos meus mecanismos de defesa é excelente, trabalha mui bem, e deleta copletamente certas datas (deveria apagar outras lembranças também - seu ineficiente! retiro os elogios que acabei de dar)...
Agosto se torna um pouquinho sombrio e triste para mim, por que esconde - numa destas datas deletas -, mascara, a lembrança de um dia meio friozinho, de céu azul e lindo em que voltei do trabalho, segui minha rotina e fui levar minhas cachorras pra fora (fazer xixi sendo mais precisa). Olhei pro céu e, apesar de amar tirar fotos de qualquer coisa que os olhares mais supérfluos digam inanimados, bater uma repentina vontade de tirar uma foto do céu...
Eu não fiz isso.
Mas também nunca esqueci daquele céu azul, com nunvens branquinhas, branquinhas, daquelas que você olha, e de refletir o sol, chaga a doer nos olhos.
Esse foi um dia bem estranho e só o entendi quando tocou o telefone, eu sabia que era para mim, o "sufocamento" estranho passou, atendi e recebi uma notícia lá...

A sensação de sufocamento passou, para dar espaço a uma sensação de vazio e... Solidão? Impotência? Arrependimento? Tudo "xunto reuníto" (como costumávamos dizer na escola, época do segundo grau...)?

Vamos lá, e começa a sessão "passa a diante"...
Caralho, que merda.
Essa foi a frase do Rodolfo.

Têm cenas, têm frases, as expressões não saem da minha cabeça.
É dose se reunir e ter que procurar as pessoas pra dizer assim "oi, tudo bem?" (mas que tudo bem da onde, velhinho???? Ele diria), "olha, tenho uma coisa pra te contar..."

Foi um negócio assim que foi aquele dia de agosto, que mesmo que tente, eu não consigo lembrar a data. Não esperem todos os detalhes, por que eu acho que não quero contar. Foi um negócio estranho, um estampido seguido de um silêncio profundo, cortante, dolorido... Sei que foi nesse dia que eu peguei medo de silêncios e de "me deter", de me economizar, de ter vergonha, de ficar com vergonha, de pouco falar, de nunca dizer.

Culpa tua Roger, velhinho!

Ele me ensinou que não existe depois, só existe um "tempo verbal de ação", o AGORA.
A gente nunca se aprofundou em saber quem eram nossos pais, nossas cidades, nossas vidas fora da escola. Compartilhamos aulas, ajudas, bagunças, tirações de sarro de professores, trabalhos na horta, danças no CTG da escola, a preocupação dele com meu coração, amigos de escola...
Uma amizade não precisa de um livro de história, precisa de sentimento, de verdade, de companheirismo, de risadas...
Mas faz falta dizer né...
Uma vez, numa guerrinha de giz enquanto a professora estava de costas, ele me acertou um giz no meio da testa!
Cara, ninguém imitava melhor a profe "Cabelo de fogo" do que ele!
Uma vez, nos fizemos um interrogatório voltando de uma visita técnica. Ahhhhhh, ele ia para as zonas de meretrício e contava pra gente como era. hahaha Quantas risadas....

A última vez que o vi, um ano antes, ele estava com seu carrinho vermelho, todo metido a gostosão (ah, ele podia, era lindo! Grande, "forçudo", divertido, alegre, amigão... Mimoso. Quindim!!!!!).
Ele se despediu de mim, me deu um abraço.
Quando ia soltar eu segurei. "Ah, deixa abraçar mais um pouco".

Foi o abraço mais apertado e bom que eu ganhei.
Sabe aquela frase que todo mundo sempre diz "faça como se fosse o último da sua vida"?
Pois é, então, esse foi o nosso último abraço...

Beijão especial pro Gordo, o Mimoso, o Quindim, ou simplesmente, o Roger!
*Meu fã de carteirinha, que roubava meus cadernos de escola pra ler as poesias que eu escrevia... Essa é pra ti, meu eterno amigo!*

E um beijinho pra todos vocês,
Marina - Agricolina

Um comentário:

Nand0 disse...

Bah, difícil dizer adeus pra uma pessoa que parte tão cedo, mas é como dizem, Deus escreve certo por linhas tortas.

bjs