segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Di-va-gan-do tchê

E lá se foi ela outra vez...
Lá foi a Semana Farroupilha pra deixar saudade - ou nem - e retornar no ano que vem...

"... O amor por esta terra / não tem como explicar...
... Não é chuva forte / é temporal..."
(acho que é isso que diz a música)

Durante uma semana (tá, põe duas na conta) os CTGs são lembrados, e chamam o povo pra fazer apresentações, e as crianças aprendem sobre lendas e a Dança do Pezinho na escola, e descobrem um tal de chimarrão. Ah, sim, a lenda do Negrinho não pode faltar.
Prometo que vou pular a parte dos pais que, desinformados, metem uma roupa de caipira nas crianças e dizem "pronto, que belo gaúcho"... Pra criança não é isso que importa.
Não existe nada de mais belo e misterioso do que ver aquela gente diferente, de roupa esquisita, dançando umas músicas legais... Ah, e toda prenda é uma fada, fada não, princesa saída direto dos contos de fadas: de vestido comprido, rodado, colorido, enfeite no cabelo, fita e flor, jóias (o tão desconhecido camafeu e sua moça muda e quieta)... Uau... Uma prenda aos olhos de uma criança é um ser vindo diretamente do céu.

E são realizados muitos bailes, e dança dos facões (que deixa todo mundo de boca bem fechada e queixo bem caído, como aconteceu no sábado a noite), e dale Chico do Porrete... Anú, Tirana, Pau-de-fitas, Balaio, Chimarrita... Chula, troca, prosa, milonga, vaneira, chamamé...

Uma coisa engraçada: andar de faixa. As pessoas ficam olhando pra você com cara desconfiada, cara de nada, cara de paisagem, trocem o beiço, fazem careta, riem baixinho, espicham os olhos pra ver o que está escrito...
Você recebe o rótulo de metida, esnobe, chata, "cri-cri" das tradições... (Bom, mulher inteligente já causa medo normalmente, mulher de faixa então... haha) Tem quem te pára pra pedir pra bater foto, que não sabe mais como se virar ou revirar pra entender o que está escrito em letras miúdas. Ah, tem quem se aproxima por que você tem cargo (belos idiotas, a prenda de verdade fica pra baixo da faixa e bem pra dentro do vestido). Mas tem quem se aproxima por que te achou simpática, por que você parece divertida, por que sentiu confiança...
E esses laços de confiança são MARAVILHOSAMENTE ETERNOS...

A gauchada toda se reúne pra ver as apresentações, pra rir, pra meter o bedelho nas danças dos outros, pra dançar nas danças de integração, pra tocar gaita unida, trocar umas idéias, contar a novidade do acampamento. Ver tiro de laço, desafiar pra chula, chorar na declamação, pra cantar, pra tocar, pra ter o prazer - simplesmente - se de sentir um pouco mais igual. Pra botar pra fora o que sente. E sem se sentir tão deslocado assim.
Acredita que tem crianças que não sabem que são gaúchas?
Pois é, tem toco de gente que pensa que só é gaúcho quem veste pilcha e está em CTG...

Eu me apaixonei pelo Rio Grande quando estava na 4ª série... Lembro até hoje que aprendi o Hino do Rio Grande do Sul e a professora trouxe várias fotos de indumentárias históricas e foi explicando... Uau... Lembro disso, só e muito. E nunca esqueci nem um pingo daquilo tudo.

Bah, que mundo mágico que toma conta da cidade nestes dias... Os ônibus pintam bandeiras do estado no vidro, as lojas escrevem e enfeitam vitrines, o pessoal que usa bombacha todo dia é mais visto ainda. E todos nós temos nossos dias de glamour, sem ouvir muitos "que maluco é esse..." ou outros gracejos sem a mínima graça que voam para nossos ouvidos quando passamos por uma avenida lotada de gurizada (bobódramo) que está enchendo a cara de trago num final de dia de sol... E você saíndo ou indo na contra-mão, passar o dia de sol lindo de morrer trancado no galpão, ensaiando movimentos, ouvindo um trololó dos infernos por que errou o passo 12 da figura número três da música tal...
hahaha E é tão ruim ficar sem esse trololó...A gente reclama, mas não sabe viver sem...
Só quem teve que parar, ou quase (ai meus joelhos...) sabe como a porca torce o rabo com isso.

Estou muitíssimo feliz com isso tudo.
Fazem uns 20 dias que passei minha faixa de 1ª Prenda do CTG e agora só sou a 3ª Prenda da 11ª RT (Região Tradicionalista) com todo o orgulho do mundo.
Tenho saudade sim da minha gestão (que continua pra sempre MINHA gestão, meus filhos, netos, bisnetos, maridos, tios, sobrinhos...) e de ser a 1ª Prenda do Laço Velho. De tudo o que sempre nos divertiu, de ter minhas criaturinhas por perto obrigatoriamente, por que já avisei que eu serei sempre a Mami, a 1ª Prenda "mandona" que adora de paixão todos os seus pimpolhos... A portadora do relho. Mandona nada, coração mole sim.
Tenho orgulho danado de ser a "Sub Prenda" da Região.
E agora estou vendo que atingi meu objetivo principal ao me aventurar num concurso desses: cativei sim algumas pessoas, fiz si que enxergassem o que eu enxergo e gostassem pelo menos um pouquinho do que eu gosto e por que gosto...
Esse é o verdadeiro mérito de se ter um (en)cargo desses. ; )

É verdade...
Não deveria ser feriado durante um só dia (dia 20, para os desavisados), mas sim por uma semana no mínimo... Só pra gente poder botar por mais tempo pra fora os reais motivos disso tudo, as verdadeiras intenções e motivações que levam uma tropa de "locos" a vestirem duzentos quilos de roupas, se enfurnarem num galpão em dias de inverno, verão, primavera, outono... Depois da faculdade, até às 2 da madrugada, deixarem de lado convites, saídas, festanças, matarem estudos, correrem de um lado a outro... Escolherem vestido, bordado, tipo de favo, lenço, nó apropriado, música, ritmo, instrumento musical...
Pior, como dizemos, a gente se ferra, mas se diverte.

Pensando bem... Que povinho mais "loco".
Eita povo loco de bueno!

Beijos,
Nina

Um comentário:

Tamara disse...

Ah Marina...
Talvez essa seja a opinião nada imparcial de alguém que sempre se reconhece a cada palavra que lê aqui...
Simplesmente lindo, como tudo que tu escreve!!
Bjinhus