quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Semana Maltrapilha

Ah, tá pensando que errei o nome é?
Negativo, pensou errado. Usei um termo bem parecido pra designar a mesma coisa, pra usar e falar da semana em que nos encontramos agora e que poucos sabem realmente o que significa. E talvez pior, só lembram "quem são" ou "quem somos", apenas por nossa amada Semana Farroupilha.

Bem fácil sair, procurar, entrar e comprar uma roupa, um traje, uma pilcha de gaúcho. Difícil é entender o por quê das coisas, entender o motivo que leva alguém a se vestir assim ou assado, a usar isso ou aquilo, a não usar aquilo, não permitir aquilo lá, andar assim, ir assado...
Bem fácil...
Bom, nesta semana, todo mundo vira gaúcho, compra bota, bombacha, alpargata, chapeú e sai pra rua. Até as mulheres viram "prendas", calça justa ou bota campeira, bota bico fino (ou grosso mesmo), chapéu. Se amarra lenço no pescoço e acaba abafando todas, por que é gaúcho de fato. Maizá galo velho!, como diria meu amigo Cusco.

Com tudo isso, eu é que depois tenho que me sentir um extraterrestre por andar de vestido de prenda, cabelo arrumado (na medida do possível, diria o Lúcio se não fosse a Carol a fazer meu cabelo), faixa, maquiagem em pleno Centro da city, ir pra lá, ir pra cá, vai levar flores no cemitério, vai visitar a mãe no hospital, enfim, cumprir minhas obrigações e deveres vestida de pilcha.
Minha irmã perguntou quando saí do hospital "e aí, como te olharam?", respondi "não muito diferente de quando fui ao cemitério". Gente... Eu por acaso estava nua?

Não tenho a míniam vergonha de ir de um lado ao outro toda paramentada. Tá, prenda é um trambolho ambulante (por que só nós sabemos o que é ir ao banheiro cheia de saias, saias de armações e tecidos, ter sempre uam cadeira ou um pé em cima de nossos vestidos), mas eu morro de orgulho de me vestir assim. De representar minha cultura, as tradições do meu estado, que é formado pela contribuição de diversos povos e raças, que nos emprestaram suas histórias, danças, músicas, jogos, lendas...
A-D-O-R-O estar assim, por que sei o que significa minah vestimenta e sei me defender, deveras bem, de qualquer um que afie a língua para dizer que não temos cultura, de que não temos identidade, de que "pegamos" as coisas e simplesmente as usamos...

Vá te informar, meu filho!

Somos o povo da guerra dos 10 anos, um bando de malucos que brigou contra um Império inteiro. Temos homens que usam calça larga e mulheres que cobrem o corpo. Trabalhamos no campo, andamos a cavalo, cuidamos da terra, guardamos nossas histórias, cultuamos as nossas tradições.
Fazemos parte de um povo que resgata danças, re-constitui fatos e se orgulha de um passado de muitos colonizadores, invasores, bandidos e heróis.

Cantamos a saudade, a dor, o amor, a beleza da terra, enaltecemos a prenda, prezamos nosso trabalho.
Sabemos nosso Hino, nos orgulhamos de nossos brasões.
Vamos embora, voltamos, ou não voltamos mais. Mas é aquela velha história, a cabeça sempre repousa por estes campos...
Empunhamos nossa bandeira, falamos alto, usamos nossas expressões. Brigamos, discutimos e xingamos, mas temos encrustada na alma a doçura, a ternura, o amor, a delicadeza. O homem gaúcho é duro, forte, bravo, mas é a fian flor dos campos, que canta o gosto do orvalho na boca de sua mulher, a qual, de tão hermorsa e preciosa, toma a delicadeza de nominá-la prenda...

É...
Somos tidos e chamados de metidos, descarados, bairristas e desavergonhados quando o assunto é o Rio Grande do Sul...
Ora bolas... Que fizemos nós de errado se só fazemos (cantamos, escrevemos, dançamos, recordamos, resgatamos...) o que todos deveriam fazer pelo seu mesmo pago?

Um beijo bem estalado e um quebra costela mui forte,
Nina

2 comentários:

Eric disse...

Você reclama dos que fingem ser gaúchos nessa Semana que eu não conhecia.

Eu gostaria de ter um feriado onde os cariocas fingiriam amar a própria história.

Pelo menos alguns deles ouviriam falar dela um pouco.

Marina disse...

Não reclamei, raposa.
Apenas falei dos que se lembrar que são gaúchos duranet a Semana Farroupilha. ; )